Minha primeira viagem à Paraty
foi em 2005, uma semana depois que a Flip tinha acontecido. Na época, eu nem me
interessava tanto por literatura e não conhecia a feira, mas o Chico Buarque
tinha participado e saber que ele tinha estado ali há apenas poucos dias foi
frustrante. Fora esse pequeno detalhe, tive uma semana memorável. Para mim,
Paraty é completa. Tem praia, trilha, cachoeira, história, cultura, aldeia indígena,
quilombos... Já seria o bastante, mas ainda tem a Flip. Mais que completa,
perfeita!
Minha primeira Flip foi em 2007 –
homenagem a Nelson Rodrigues. Não tinha uma simpatia especial pelo autor e por
isso, não me empolguei tanto. Mas a Feira ia muito além dele e foi inspiradora
para mim. Para mim, teve um gostinho de literatura africana. Lembro-me
especialmente do debate com Ishmael Beah – um jovem de Serra Leoa que tinha
sido menino-soldado na guerra civil do país. O livro dele virou um dos meus
preferidos da vida – “Muito Longe de Casa”. Foi lá também que conheci o
angolano Mia Couto e uma forma de literatura tão estranha e encantadora para
mim. Lá mesmo comprei “Terra Sonâmbula”, depois ganhei “Um rio chamado tempo,
uma casa chamada terra” de amigo oculto pós-faculdade. Gostei mais do segundo
do que do primeiro.
No ano seguinte, voltei à Flip.
Desta vez, homenageando Machado de Assis – meu autor brasileiro preferido. Que privilégio!
Minha memória falha não me deixa lembrar quais mesas assisti ou quais livros
comprei. Acho que Machado ocupava demais minha cabeça.
Passei uns anos sem ir à Flip,
mas continuei frequentando Paraty em outras épocas. E toda vez que ia, amava
mais esse lugar. Não sei bem explicar o porquê. Acho que algumas conexões
sentimentais são inexplicáveis. Foi em Paraty que me despedi do Brasil e da
minha mãe antes de ir para a Europa.
Agora, em 2013, voltei à Paraty e
à Flip - homenageado Graciliano Ramos. Embora minha expectativa fosse enorme, a cidade e o evento ainda
conseguiram se superar e me surpreender. A Flip está gigante, bem maior do que
das vezes que fui, mas o clima gostoso de se sentir “em casa” ainda está ali e Paraty
continua aconchegante. Além da programação principal, da Flipzona, da Flipinha,
tem todas as casas culturais, as expressões artísticas nas ruas, tem tudo.
Desta vez, o destaque não poderia ser outro: a política e as mobilizações no
país. Não importava qual fosse o tema da mesa, o assunto sempre pairava no ar e
acabava entrando na roda. Assisti uma palestra sensacional com o filósofo
Vladimir Safatle, o psicanalista Tales Ab'Saber e o inglês T.J. Clark e uma nem
tão boa assim mediada terrivelmente pelo William Waak – a quem, por sinal,
passei a ter um certo desprezo. Para além disso, conheci o cineasta Eduardo
Coutinho e gostei do papo dele bem mais do que imaginei – tão simples e tão
inteligente. Conclusão: um desespero profundo porque ainda me falta tanto para
conhecer, tantos livros para ler, filmes para assistir, ideias para debater...
Mas a Flip... Mais que completa,
perfeita!
Como te falei na mensagem que te mandei: santa invejinha. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, curtimos eventos do tipo Flip (embora eu ainda não tenha tido o privilégio de ir nela). Se precisar de companhia pros filmes ou pra debater as ideias, sabe que pode contar com seu querido cunhado aqui.
ResponderExcluirAh, sim, esqueci de comentar o texto propriamente dito. Está leve e acabou antes de eu contar quantos parágrafos faltavam (isso é um elogio). =)
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