terça-feira, 9 de julho de 2013

Paraty, Flip e literatura





Minha primeira viagem à Paraty foi em 2005, uma semana depois que a Flip tinha acontecido. Na época, eu nem me interessava tanto por literatura e não conhecia a feira, mas o Chico Buarque tinha participado e saber que ele tinha estado ali há apenas poucos dias foi frustrante. Fora esse pequeno detalhe, tive uma semana memorável. Para mim, Paraty é completa. Tem praia, trilha, cachoeira, história, cultura, aldeia indígena, quilombos... Já seria o bastante, mas ainda tem a Flip. Mais que completa, perfeita!

Minha primeira Flip foi em 2007 – homenagem a Nelson Rodrigues. Não tinha uma simpatia especial pelo autor e por isso, não me empolguei tanto. Mas a Feira ia muito além dele e foi inspiradora para mim. Para mim, teve um gostinho de literatura africana. Lembro-me especialmente do debate com Ishmael Beah – um jovem de Serra Leoa que tinha sido menino-soldado na guerra civil do país. O livro dele virou um dos meus preferidos da vida – “Muito Longe de Casa”. Foi lá também que conheci o angolano Mia Couto e uma forma de literatura tão estranha e encantadora para mim. Lá mesmo comprei “Terra Sonâmbula”, depois ganhei “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra” de amigo oculto pós-faculdade. Gostei mais do segundo do que do primeiro.

No ano seguinte, voltei à Flip. Desta vez, homenageando Machado de Assis – meu autor brasileiro preferido. Que privilégio! Minha memória falha não me deixa lembrar quais mesas assisti ou quais livros comprei. Acho que Machado ocupava demais minha cabeça.

Passei uns anos sem ir à Flip, mas continuei frequentando Paraty em outras épocas. E toda vez que ia, amava mais esse lugar. Não sei bem explicar o porquê. Acho que algumas conexões sentimentais são inexplicáveis. Foi em Paraty que me despedi do Brasil e da minha mãe antes de ir para a Europa.

Agora, em 2013, voltei à Paraty e à Flip - homenageado Graciliano Ramos. Embora minha expectativa fosse enorme, a cidade e o evento ainda conseguiram se superar e me surpreender. A Flip está gigante, bem maior do que das vezes que fui, mas o clima gostoso de se sentir “em casa” ainda está ali e Paraty continua aconchegante. Além da programação principal, da Flipzona, da Flipinha, tem todas as casas culturais, as expressões artísticas nas ruas, tem tudo. Desta vez, o destaque não poderia ser outro: a política e as mobilizações no país. Não importava qual fosse o tema da mesa, o assunto sempre pairava no ar e acabava entrando na roda. Assisti uma palestra sensacional com o filósofo Vladimir Safatle, o psicanalista Tales Ab'Saber e o inglês T.J. Clark e uma nem tão boa assim mediada terrivelmente pelo William Waak – a quem, por sinal, passei a ter um certo desprezo. Para além disso, conheci o cineasta Eduardo Coutinho e gostei do papo dele bem mais do que imaginei – tão simples e tão inteligente. Conclusão: um desespero profundo porque ainda me falta tanto para conhecer, tantos livros para ler, filmes para assistir, ideias para debater...

Mas a Flip... Mais que completa, perfeita!




2 comentários:

  1. Como te falei na mensagem que te mandei: santa invejinha. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, curtimos eventos do tipo Flip (embora eu ainda não tenha tido o privilégio de ir nela). Se precisar de companhia pros filmes ou pra debater as ideias, sabe que pode contar com seu querido cunhado aqui.

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  2. Ah, sim, esqueci de comentar o texto propriamente dito. Está leve e acabou antes de eu contar quantos parágrafos faltavam (isso é um elogio). =)

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