quarta-feira, 31 de julho de 2013

Guest Post - Dias perfeitos de verão - Bélgica

Esse é um post especial, escrito por uma amiga muito querida. Enquanto passamos frio no Rio, ela traz um pouco do calor do verão belga e mata minhas saudades...



"O clima aqui na Bélgica é meio triste. A maior parte do ano é dominada por céu nublado, chuva, frio, escuridão. Durante o inverno os dias são tão curtos e o sol fica tanto tempo sem aparecer que você até começa a esquecer como é ver a luz e sentir o calor na pele.

Sempre que conheço alguém aqui e digo que sou do Brasil a pessoa se ilumina e sei exatamente o que passou pela sua mente: sol, calor, praia. Me perguntam porque decidi morar na Bélgica e se eu não sinto falta do clima.

Evito enumerar todos os pontos em que a vida na Bélgica é melhor do que no Brasil (pra mim) e resumo dizendo que quando o calor é demais, você se cansa. Que o eterno verão brasileiro não proporciona qualidade de vida às pessoas.

Aqui eu aprendi a desejar e aproveitar os – poucos - dias de sol. No Brasil eu evitava sair quando o sol estivesse muito quente e andava sempre pela sombra para não queimar. Odiava chegar suada ao trabalho e nunca havia roupa confortável e fresca o suficiente.

Na Bélgica o sol chega timidamente. Passamos a primavera inteira sonhando com o calor e celebrando cada florzinha que nasce. A natureza se renova e o espírito das pessoas também. Sai um solzinho e todo mundo sai de casa. Sentam-se no jardim, nas calçadas dos bares, vão aos parques, andam de bicicleta, fazem churrasco, descobrem as piscinas, vão à praia. Ficam tão bronzeados, mas tão bronzeados que parece que estavam perdidos num deserto!

O humor muda, usamos roupas leves, comemos comidas leves, o espírito fica mais leve e ficamos ao ar livre até tarde (pôr do sol às 22h!).
E eu, brasileira do sertão norte mineiro, reclamo do calor de 25 graus!"

Ana Elisa Miranda é professora de inglês, ex Au Pair e escritora. Autora do livro de crônicas "Qualquer dia desses” e do eBook “Live the dream and love the journey”, recém-lançado.

Facebook: https://www.facebook.com/anaelisasmiranda

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Providência Divina


Como cristã, não acredito em coincidências, tampouco em destino. Mas acredito em um Deus onisciente e de amor infinito que empenha todos os seus esforços, até o limite do nosso livre arbítrio, para nos conduzir aos Seus planos – cabe dizer: os melhores que podemos ter. A isso, chamamos de Providência Divina.

As intervenções de Deus na minha história ficaram mais claras quando estava na Europa – na verdade, em todo o processo, desde a noite em que não conseguia dormir e cogitei a hipótese de me mudar até meu voo de volta ao Brasil – incluindo tudo que eu vivi lá, as pessoas que (re)encontrei, os empregos que tive, os lugares que visitei, as famílias com quem morei... tudo era nitidamente providência divina.

O estranho é que desde que voltei ao Brasil a providência divina parecia não funcionar mais tão bem. Tive uma oferta de emprego maravilhosa, mas não rolou, depois outras apareceram, mas nada acontecia. Até que encontrei meu atual trabalho, algo um tanto quanto distante das minhas aspirações profissionais.

Nesse meio tempo, não por acaso, assisti um sermão do meu cunhado sobre a vida de Esther, que dizia algo como: “Talvez seja para esse momento que Deus te conduziu até aqui”.  Eu gostei muito da mensagem, mas não entendi se e como aquilo se encaixava com a minha vida naquele momento. Hoje, sete meses depois, eu tenho uma vaga ideia...

Poucas vezes na vida meus sentimentos foram tão contraditórios e pouquíssimas vezes eu repensei minhas atitudes como eu precisei fazer nesse período. De uma forma ou de outra, a dinâmica do ambiente e a sinceridade das pessoas me fizeram enxergar alguns defeitos que eram tão óbvios em mim, mas eu negava. Um dia, ouvi críticas duras de uma pessoa que eu admirava muito. Fiquei arrasada, mas quando contava a situação para minha família, a resposta era sempre a mesma: “você está tendo uma grande oportunidade para melhorar”. Em outras palavras, “quem sabe se não foi para tal tempo como este que chegaste ao reino?” (Esther 4:14).

A verdade é que nem sempre a providência divina faz sentido para a gente. Talvez, demore algum tempo até que entendamos o porquê das coisas acontecerem desta ou daquela maneira, talvez não entendamos nunca. Mas, como bem disse meu cunhado no tal sermão sobre Esther: “você quer que as coisas façam sentido, Deus quer ganhar o jogo”.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Paraty, Flip e literatura





Minha primeira viagem à Paraty foi em 2005, uma semana depois que a Flip tinha acontecido. Na época, eu nem me interessava tanto por literatura e não conhecia a feira, mas o Chico Buarque tinha participado e saber que ele tinha estado ali há apenas poucos dias foi frustrante. Fora esse pequeno detalhe, tive uma semana memorável. Para mim, Paraty é completa. Tem praia, trilha, cachoeira, história, cultura, aldeia indígena, quilombos... Já seria o bastante, mas ainda tem a Flip. Mais que completa, perfeita!

Minha primeira Flip foi em 2007 – homenagem a Nelson Rodrigues. Não tinha uma simpatia especial pelo autor e por isso, não me empolguei tanto. Mas a Feira ia muito além dele e foi inspiradora para mim. Para mim, teve um gostinho de literatura africana. Lembro-me especialmente do debate com Ishmael Beah – um jovem de Serra Leoa que tinha sido menino-soldado na guerra civil do país. O livro dele virou um dos meus preferidos da vida – “Muito Longe de Casa”. Foi lá também que conheci o angolano Mia Couto e uma forma de literatura tão estranha e encantadora para mim. Lá mesmo comprei “Terra Sonâmbula”, depois ganhei “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra” de amigo oculto pós-faculdade. Gostei mais do segundo do que do primeiro.

No ano seguinte, voltei à Flip. Desta vez, homenageando Machado de Assis – meu autor brasileiro preferido. Que privilégio! Minha memória falha não me deixa lembrar quais mesas assisti ou quais livros comprei. Acho que Machado ocupava demais minha cabeça.

Passei uns anos sem ir à Flip, mas continuei frequentando Paraty em outras épocas. E toda vez que ia, amava mais esse lugar. Não sei bem explicar o porquê. Acho que algumas conexões sentimentais são inexplicáveis. Foi em Paraty que me despedi do Brasil e da minha mãe antes de ir para a Europa.

Agora, em 2013, voltei à Paraty e à Flip - homenageado Graciliano Ramos. Embora minha expectativa fosse enorme, a cidade e o evento ainda conseguiram se superar e me surpreender. A Flip está gigante, bem maior do que das vezes que fui, mas o clima gostoso de se sentir “em casa” ainda está ali e Paraty continua aconchegante. Além da programação principal, da Flipzona, da Flipinha, tem todas as casas culturais, as expressões artísticas nas ruas, tem tudo. Desta vez, o destaque não poderia ser outro: a política e as mobilizações no país. Não importava qual fosse o tema da mesa, o assunto sempre pairava no ar e acabava entrando na roda. Assisti uma palestra sensacional com o filósofo Vladimir Safatle, o psicanalista Tales Ab'Saber e o inglês T.J. Clark e uma nem tão boa assim mediada terrivelmente pelo William Waak – a quem, por sinal, passei a ter um certo desprezo. Para além disso, conheci o cineasta Eduardo Coutinho e gostei do papo dele bem mais do que imaginei – tão simples e tão inteligente. Conclusão: um desespero profundo porque ainda me falta tanto para conhecer, tantos livros para ler, filmes para assistir, ideias para debater...

Mas a Flip... Mais que completa, perfeita!