sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sobre as manifestações no RJ



Foto: Pablo Vergara

OK. Esse não é um blog sobre política e nem eu sou uma pessoa necessariamente politizada – embora goste do assunto, entendo bem menos do que deveria e gostaria. Mas preciso desabafar, preciso escrever.

Desde quando tudo começou eu apoiei e participei do movimento. Reivindicação legítima por um transporte público de qualidade e a preço justo para o cidadão – baixar os 0,20 centavos, cobrar das empresas mais investimento, abrir as planilhas dos gastos e lucros das concessões.  A ideia ganhou corpo e  aderentes em todo o país – fiquei encantada. Sou uma pessoa apaixonada por natureza e a mobilização nacional me empolgou extremamente. Outras tantas reclamações e reivindicações surgiram – achei legítimo e saudável, contanto que não perdesse o foco.

Fui e sou contra os “esquerdistas politizados” que gritavam “ei, reaça, saia dessa marcha” – afinal, naquela altura, o movimento não era da esquerda ou de direita, nem de um partido ou de outro – era do Brasil “todo” unido por um país melhor (lindo e utópico).

Mas também fui e sou contra a galera que pegou o bonde andando, diversificou as reivindicações e agora queriam expulsar e hostilizar os partidários que estavam lá desde o começo.  Oportunistas eles seriam se entrassem na jogada levantando bandeiras quando ela ganhou a mídia – não foi o caso. O movimento não é partidário, mas os caras são e estão lá legitimamente desde o princípio.

Além discussão da “esquerda oportunista” e da “direita querendo reverter o discurso”, veio a polêmica do com ou sem “vandalismo”. Sou contra a violência sempre, mas entendo que o quebra-quebra como reação à truculência policial em uma multidão pacífica é consequência natural e “de direito”.

Fui à segunda manifestação que aconteceu no RJ, no domingo 16/06, no Maracanã. Uma galera razoavelmente pequena – acho que menos de 1000 pessoas – pacífica, sendo atacada covardemente SEM REAGIR por uma polícia despreparada e mal orientada. Absurdo!

No dia seguinte, segunda (17/06), manifestação linda. Rio Branco lotada, multidão de no MÍNIMO MÍNIMO MÍNIMO 100 mil pessoas, cantando e levantando a bandeira pacificamente. Mas, de repente, uma dispersão, uma galera vai pro pau, não como reação à truculência policial, mas por iniciativa própria. Novamente, uma polícia despreparada e mal orientada, acuada sem reação. Absurdo dos dois lados!


Na terça, 18/06, RJ e SP anunciam a redução das passagens, mas às custas do governo (não das empresas de transporte) e com retirada dos investimentos em saúde. Absurdo total.

Então chegou o dia do “amanhã será maior” – quinta, 20/06 - Dia Histórico. Av. Presidente Vargas lotada – país inteiro com manifestações. Lindo demais, principalmente nas imagens aéreas. No chão, no corpo-a-corpo, imagens decepcionantes. De um lado, um clima de micareta que me deprimia e uma falta de sincronia total – um grupo cantava e o outro vaiava, o outro cantava e as pessoas não acompanhavam porque não acreditavam naquilo. Claramente uma multidão de muitas vozes contraditórias. Fora Dilma ou Fora Paes? Eu, particularmente, não quero ninguém fora – quero que quem está dentro cumpra seu papel e nos represente. Mudar político não é efetivo se eles não perceberem que quando chegarem ao poder vão precisar atender as exigências do povo que os elegeram e a quem eles deveriam representar.

Por outro lado, a polícia barbarizando, indo pra cima da multidão (até onde sei) pacífica – tacando bombas de gás lacrimogêneo em bares e prédios na Lapa e na Glória, cercando alunos na UFRJ. Novamente, polícia despreparada e muito muito muito mal orientada. Absurdo, absurdo, absurdo. Um horror! E, agora sim, manifestantes vandalizando como reação à violência covarde da polícia.

Fui dormir à 1h profundamente triste, acordei às 5h30 para apresentar um trabalho na pós e acessei o Facebook para saber como tudo tinha se resolvido. O primeiro post que vi foi de uma amiga belga dizendo que os jornais de lá anunciavam uma morte em SP. Cheguei ao centro do Rio e vi pilhas de lixos queimados e cacos de vidros no chão. Tristeza profunda.

E agora? Estou decepcionada, mas continuo a favor das manifestação – mas elas precisam de foco – de serem uníssonas. Não é uma questão de partido A ou B ou de direita ou esquerda – mas de um objetivo em comum. Na minha opinião, ainda tem que ser o transporte público e a violência policial.

No mais, a certeza que podemos e precisamos lutar por nossos direitos, por um Brasil que queremos. Nada deve parecer impossível de mudar. Mas a certeza maior ainda que meu mundo não é aqui. Defendo ideias e causas que acredito na maneira que acredito porque estou aqui e quero viver do melhor jeito possível. Mas não dá para viver para esse mundo. Tudo de bom que vemos aqui é medíocre.




2 comentários:

  1. Muito bom o post. Faço das suas palavras as minhas.
    O nosso mundo não é aqui, graças a Deus, mas isso não impede de tentarmos um Brasil melhor como um todo.
    Gostei da leitura! Ótima review!

    ResponderExcluir
  2. Texto maravilhoso! Análise consciente e equilibrada.

    ResponderExcluir